Já se parou para perguntar por que pessoas famosas e bem sucedidas geralmente morrem cedo? Parece que quase todas estavam lutando contra crises de ansiedade, depressão ou algum vício.
Quando era criança lembro de escutar minha mãe dizer que as pinturas de Van Gogh eram as mais bonitas que existiam. Mal eu sabia que ele era um dos casos mais antigos de famosos com depressão.
Creio que ele foi o primeiro pintor famoso para mim, nos meus olhos de criança.
Após ver em livros, revistas, jornais e enciclopédias fotos de algumas de suas pinturas pude ter ideia do que ela se referia. Lembro que isso tudo se passou antes de existir Google e poder pesquisar tudo o que queremos e encontrar a resposta em milésimos de segundos.
Nesses mesmos livros lembro de ler a história de vida de Van Gogh que morreu muito jovem após ter passado por situações perturbadoras e ter tirado finalmente a própria vida.
Foi de certa forma chocante descobrir essa história.
Quem não é normal?

Alguns anos mais tarde estava lendo um artigo numa edição de domingo de um jornal nacional muito famoso.
Naqueles tempos os jornais tinham muitas páginas e o domingo era o dia mais importante. Era o dia em que artigos longos e análises eram escritas por colunistas. O dia dos classificados, os cadernos de esporte e para crianças eram bem mais recheados.
E eu lia tudo. Minha técnica era começar com as notícias da atualidade e deixar as análises e artigos para depois.
Uma vez lembro de ler um texto sobre quão brilhante e inteligente eram algumas pessoas que fizeram grandes descobertas e/ou contribuíram com obras de artes para a história da humanidade.
O autor mencionava, agora não lembro se esse era o objetivo ou não, que geralmente pessoas que alcançam grandes feitos são pessoas com pertubações mentais e emocionais. E a explicação era que pessoas normais não alcançam feitos anormais,
Somente quando alguém sai da faixa da normalidade é que está livre para ir além da média.
Se uma pessoa é consciente que ela precisa fazer para ser aceite como normal de acordo com todas as convenções sociais ela não tem o poder de escapar dessas normas.
Só alguém que não precisa ou não consegue viver dentro dessas regras é que consegue ir e arriscar além do medíocre e chegar em outros pontos que trazem mudanças ou obras de artes incríveis.
Psicopatas aparecem na história
Isso me pareceu uma boa explicação por muitos anos. Mais tarde esse pensamento foi validado com uma pesquisa em que dizia que a maioria das pessoas que chegam a um posto de chefia é psicopata. A explicação é parecida. Somente uma pessoa que não se deixa moldar por regras de normalidade tem a coragem de agir sem medo da auto-repressão que a normalidade impõe.
Mas eu queria saber mais e fui buscar outras teorias.
Eu realmente com o tempo comecei a prestar atenção na vida de muita gente famosa e a descobrir a história por trás da celebridade e de sua fama.
Lembro ainda quando criança ler sobre a morte de Elvis Presley e Marilyn Monroe, por exemplo. Ambos morreram jovens e em situações muito estranhas que se assemelhavam a um suicídio.
Eu não entendia: como é que aquelas pessoas eram tão amadas, idolatradas, eram lindas e tiveram um sucesso incomparável, morreram tão cedo?
Ao longo dos anos fui descobrindo mais e mais exemplos de grandes gênios cuja história pessoal está recheada de desgraças, doenças, traumas, vícios e mortes prematuras.
Atualmente vejo uma longa lista de atores, artistas e músicos norte-americanos que morrem por overdose de fentanil. Essa é a mais recente droga ilegal e a principal usada por lá, o que está causando uma epidemia com muitas mortes.
Se você pensar bem pode perceber que uma das principais causa de morte de jovens é devido ao uso excessivo e acidental de substâncias ilegais. O suicídio vem em segundo, mas no fundo, é a mesma coisa. Ambas as ações têm o objetivo de fugir de uma dor só que com as drogas ilícitas isso acontece de forma mais lenta.
Observe que me refiro a “drogas ilícitas” porque existem inúmeras formas de adições e que são consideradas perfeitamente legais, mas que são usadas para o mesmo fim: amortecer o sofrimento e lidar com a dor. Veja o exemplo da comida e da bebida só para citar os mais básicos.
O que veio primeiro a depressão ou a fama?

Mas voltando a pergunta do título. Será que a fama, o sucesso, o dinheiro causa a depressão e a vida conturbada dos famosos? Será que toda essa nova vida que alguém que fica famoso tem que levar é que causa tristeza e infelicidade? Se essa pessoa fosse um zé-ninguém seria feliz outra vez?
Eu fui a fundo pesquisar isso e a resposta que eu achei faz todo o sentido para mim.
Na verdade, não é a fama que traz a depressão, mas é o contrário. A pessoa busca a fama porque tem depressão.
Parece doida a ideia, mas vou explicar. Para isso temos que entender o que causa a depressão.
Basicamente e resumidamente a depressão vem lá da infância. Foi o entendimento do bebê como uma perda do amor materno. Não que a mãe foi cruel com a criança, mas foi o que esta sentiu.
Não, não é para culpar a mãe, mas para perceber que a mãe tinha seus problemas e questões e quando a criança sentiu o que a sua mãe sentia esta concluía que era a responsável pelo que acontecia na família.
A criança então sente que se ela não existisse, se ela ficasse quietinha e fosse boazinha a mãe seria mais feliz. O mundo girava ao nosso redor quando éramos crianças.
A única forma que um bebê pode fazer é esforçar-se para incomodar o mínimo possível, é suprimir, reprimir e sufocar suas emoções. Entende porque agora como adulto deprimido você não consegue sentir emoções mesmo que esteja em um momento que deveria estar pulando de alegria e celebrando?
Essa dependência do humor externo foi o que levou a criança tentar ser a mais boazinha que pudesse para os pais. Suprimir o que sentia e queria para agradar aqueles que a criaram.
Um vazio que nunca se enche apesar da fama e da riqueza

Quando essa pessoa segue para a vida adulta não aprendeu a ter uma referência interna para equilibrar suas emoções.
Assim ela vive em busca de amor alheio. Ela faz tudo para agradar os outros, está sempre disponível e pronta para agradar, sufoca suas emoções para que os outros sejam felizes, fazem e performam em suas tarefas somente para receber aprovação externa. Tenho certeza que você conhece pessoas assim. Pode fazer os pedidos mais absurdos ela vai te atender com um sorriso nos olhos mesmo que por dentro ela esteja esgotada até a última gota de seu espírito.
Essa pessoa não escolhe a sua profissão, o que estudar, o seu parceiro, mas depende da opinião e conselhos de outros.
Ela não sabe o que quer e aceita o que lhe dizem. Porque o que importa é agradar mesmo que aquilo lhe traga sofrimento.
Então imagine que para essas pessoas a ideia de que quanto mais eles fizerem, mais elogios, reconhecimento e amor externo vão receber.
E para receber mais reconhecimento você precisa de mais olhos em você. Quanto mais gente sabe que você existe mais chances você tem de receber validação.
E chegar a fama é o caminho para que isso se realize.
A pessoa leva para uma escala maior o que já fazia antes. Ela só ampliou.
Uma pessoa que tem um ótimo desempenho profissional, está sempre lá, mesmo doente vai trabalhar está querendo mostrar que é extremamente útil. Que se ela estivesse em casa descansando perderia seu valor como pessoa. Ela precisa mostrar e provar sua utilidade para o mundo a qualquer preço.
É como se ainda fosse criança e tivesse que justificar sua existência.
E com as celebridades é a mesma coisa. Elas precisam inconscientemente provar que são merecedoras de admiração.
Só que isso não funciona e nunca dá certo.
Quando alcançam a fama e percebem que mesmo assim não estão felizes buscam se anestesiar com bebida, drogas ilegais e atividades perigosas entre outras formas de fuga.
Agora é pior ainda para eles porque além de continuarem doentes têm que enfrentar os fãs que lhes criticam a cada passo que aqueles dão.
“Fulana está gorda, sicrano está numa clínica de reabilitação, beltrano foi preso dirigindo embriagado, outra fulana morreu de overdose na banheira”. Essas são notícias bem conhecidas nos jornais de fofocas e nas redes sociais.
Alguns poucos decidem sumir da vida pública para viver sua angústia em paz. Muitos morrem cedo por causa de alguma forma direta ou indireta de suicídio.
Vida leva eu
O que eles queriam era o que todos querem: serem amados e serem validados, mas o que não sabem que isso só se encontra em nós mesmos.
O vazio que eles sentem lá dentro de si não será preenchido com o que vem de fora, mas sim com a auto-conexão.
Tomar consciência, deixar o passado para trás e fazer um novo caminho com o que aprenderam do que aconteceu com eles.
Não existe elogio, prêmio, reconhecimento, dinheiro ou medicação que vá trazer o que só pode ser criado dentro de nossos corações e mentes.
Você provavelmente não é uma celebridade e tem depressão deve ser aquela criatura bondosa demais que não sabe dizer não e vive conforme a vida te leva.
Você precisa de conselhos para viver e fazer cada decisão porque não sabe quem é o que quer de verdade para você. Pode até saber, mas tem medo e sente culpa de seguir o teu caminho e desagradar os outros.
A carta de um famoso com depressão que explica tudo

Para encerrar vou deixar um trecho da carta de Kurt Cobain que ele escreveu antes de tirar a própria vida com apenas 27 anos. Mais um entre vários famosos que se suicidaram por depressão. Gosto de citá-lo porque acredito que ele descreve exatamente o que uma pessoa acredita quando chega a um ponto em que não aguenta mais a vida que leva.
“Eu não tenho sentido a excitação de ouvir, bem como criar música, juntamente com a leitura e a escrita, faz muitos anos.” Aqui ele fala da apatia e como não sente mais a excitação em fazer suas atividades.
“quando estamos atrás do palco e as luzes se apagam, e o ruído ensandecido da multidão começa, isso não me afeta do jeito que afetava Freddie Mercury, que parecia amar, se deliciar com o amor e adoração da multidão,” Note como ele é incapaz de sentir a alegria de estar num palco.
“O pior crime que posso imaginar seria enganar as pessoas sendo falso e fingindo como se eu estivesse me divertindo 100%. Às vezes eu sinto como se eu tivesse que bater o cartão de ponto antes de subir ao palco. Eu tentei tudo ao meu alcance para gostar disso (e eu tento, por Deus, acreditem em mim, eu tento, mas não é o suficiente).” Ele se sente até de certo modo culpado por não se sentir feliz e sente mal por ter que fingir felicidade.
“Eu tive muito, muito mesmo, e eu sou grato por isso, mas desde os sete anos, passei a ter ódio de todos os humanos em geral” Percebe aqui que ele percebe já com 7 anos a raiva dentro dele? Isso é a depressão dando as caras. Parece contra-intuitivo, mas a raiva é parte da depressão. Vou escrever mais sobre os sintomas da depressão em detalhes em um post futuro.
“Apenas porque parece tão fácil para as pessoas que tem empatia se darem bem.” Aqui ele se sente que como um ser bonzinho deveria ter uma vida melhor. Apenas porque eu amo e lamento demais pelas pessoas, eu acho.” Aquela velha pergunta: por que pessoas boas se dão mal? Repare que ele se sente responsável pelos outros.
E ele termina “eu não tenho mais a paixão, por isso lembre-se, é melhor queimar de vez do que se apagar aos poucos.” Ele já não sente mais nada e então para economizar o sofrimento prefere encerrar a vida mais cedo do que estender essa angústia por muitos anos.
Bom, esse foi a minha reflexão de hoje.
Espero que goste de lê-la tanto quanto eu gosto de escrevê-la.
Lembro que se precisar de ajuda para sair de uma situação de depressão ou outro desafio que te aflige, mas não encontrou ainda uma solução eu posso te dar uma luz. Entre em contato aqui ou marque aqui um horário.
Aguardo-te na próxima semana.